O gospel de Nick Cave e o doce Caju de Liniker
O acolhimento do padre Júlio Lancellotti e Onça-me
O ano de 2024 tem sido repleto de lançamentos musicais notáveis, mas poucos álbuns se destacaram tanto quanto Wild God de Nick Cave & The Bad Seeds e Caju de Liniker (aqui vale ressaltar que falo do meu gosto pessoal para música).
Esses dois discos, apesar de serem de artistas e contextos bastante distintos, compartilham uma característica essencial: a capacidade de surpreender e emocionar profundamente o ouvinte. Ambos são obras que exploram as complexidades da vida e do amor, e apresentam artistas em suas versões mais autênticas e corajosas.
Wild God, o 18º álbum de Nick Cave, traz o compositor australiano e sua banda The Bad Seeds em um mergulho espiritual e existencial, impulsionado por orquestrações grandiosas, coros de vozes e arranjos que dialogam com a música gospel.
O disco surge após um período de luto intenso para Cave, que nos últimos anos perdeu dois filhos. Contudo, ao contrário de seus trabalhos anteriores como Skeleton Tree (2016) e Ghosteen (2019), Wild God opta por um tom mais esperançoso, focando na força transformadora das relações humanas e na busca por conexão. É um álbum profundamente espiritual, que faz cada faixa parecer um ato de transcendência emocional, enquanto Cave explora temas de fé e dúvida de maneira catártica e introspectiva.
Por outro lado, Caju de Liniker é uma celebração da liberdade artística e pessoal. Criado a partir de um alter ego que representa sua coragem e maturidade, o segundo álbum solo da cantora brasileira é uma tapeçaria musical que mistura pagode, bossa nova, disco music, afrobeat e até forró.
Se Wild God se aprofunda nas nuances da espiritualidade, Caju mergulha no universo das emoções humanas mais íntimas e cotidianas, explorando amor, vulnerabilidade e desejo de forma intensa e sensível. Liniker não apenas cria letras que tocam o coração, mas também se permite experimentar com arranjos e colaborações inesperadas, resultando em um álbum denso e envolvente, que representa uma nova fase de sua carreira.
O que une essas duas obras tão distintas é a coragem de seus criadores em revelar suas vulnerabilidades mais profundas. Tanto Cave quanto Liniker utilizam suas experiências pessoais para criar algo universal e catártico. Enquanto Wild God nos leva por uma jornada quase religiosa, Caju nos convida a um mergulho afetivo, ambos com arranjos e letras que nos fazem refletir sobre o que significa ser humano.
A extensão das faixas é outra característica compartilhada por ambos os discos, desafiando a tendência atual de faixas curtas e superficiais, e nos presenteando com uma experiência musical mais imersiva e profunda.
Talvez o mais impressionante seja como esses álbuns, mesmo em suas diferenças culturais e musicais, oferecem ao ouvinte a sensação de estar diante de algo maior. Wild God e Caju são trabalhos que nos fazem parar e ouvir com atenção, apreciando cada camada de som e cada palavra.
O ano 2024 já se mostrou um ano de grandes lançamentos, esses dois discos se destacam como as maiores surpresas – obras que não apenas impactam, mas também deixam um legado duradouro. Para mim, eles são as joias inesperadas que definem o espírito artístico e emocional deste ano, em que um antigo compositor cearense me dizia “ano passado eu morri, mas esse ano não morro”.
Júlio Lancellotti #ACOLHE
Em 2023, a Editora Draco lançou “Pobrefobia - Vivências das ruas com padre Júlio Lancellotti”, que para mim, foi uma das melhores e mais importantes leituras que já fiz (fiz uma resenha no Instagram aqui). A história em quadrinho se originou de um convite do padre Júlio Lancellotti ao roteirista Rogério Faria, que acompanhou as rodas de conversa de inspiração freiriana que ele organiza diariamente com as pessoas em situação de rua. Dessa convivência, os relatos colhidos deram origem ao quadrinho.
A partir disso, nasceu a ideia de uma biografia em quadrinhos dessa figura especial. Rogério que tem experiência com biografias em quadrinhos, já tendo escrito Marighella #LIVRE e Paulo Freire #PRESENTE, ambos lançados pela Editora Draco.
As histórias serão desenhadas por uma equipe de artistas fantásticos; Laudo, Lila Cruz, Danilo Dias e Pedro Balduino.
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ONÇA-ME, por Wagner Willian
Wagner Willian é um autor que sempre me chama atenção em qualquer um dos seus projetos, desde sua estreia me chama atenção como ele consegue diferenciar o seu traço e suas histórias em gêneros diferentes. Mas sempre, sempre com uma pegada crítica, mordaz e sagaz.
ONCA-ME, traz a história de uma onça-preta marcada pelo relacionamento abusivo, tanto profissional quanto pessoal, com o domador de circo.
Narrada em primeira pessoa, somos apresentados a uma perspectiva crítica, durante diversos números circenses, de uma personagem aprisionada por grades maiores do que a jaula.
Treinada para a perfeição, condicionada a obedecer, conseguirá a onça-preta enxergar sua própria força e reivindicar sua liberdade?
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O que andei lendo
Sigo lendo Fome de Viver, de Whitley Strieber, que comentei no post passado. E, numa tacada só, fiz a leitura do conto (?) O Homem Bicentenário, de Isaac Asimov (tradução de Aline Storto Pereira, lançado pela Editora Aleph). Vou preparar um texto para o perfil do LiteroBalões no instagram essa semana, mas já adianto que o filme de 1999, adaptou muito bem o material original que, em alguns momentos, o superou.
Até a próxima newsletter! Abraços!